Assassino em massa de almas femininas, eu. K.
Hj quando penso em K. entendo o ponto fundamental do nosso desencontro.
K. estava/está, com uma mulher, em busca de uma amizade profunda, e de uma terapeuta, uma irmã, uma mãe. Um espelho de sua alma e até de seu corpo, onde se morar e se autoconhecer, tal qual e ainda mais profundamente, no mito de Narciso. Uma figura feminina que seja uma tela em branco sobre a qual desenhar seu espírito e recriar seu corpo e afirmar a sua doentia sexualidade, que ela não a sinta como doentia mas como plena, que ela a adore, e talvez adore ou imite, que ela faça da alma de K. a sua alma.
K. busca nas mulheres o seu eu inteiro, que seja ele a mulher, busca sua própria transubstanciação no feminino, ele quer roubar a luz rósea feminina para si, e para isso a sua mulher precisa abdicar da sua feminilidade para devolve-la a K (a palavra é essa, devolver) pois o que a mulher representa no imaginário do cross-dresser é a da figura da ladra, daquela que lhe impingiu a masculinidade, que o chamou “meu filho” “meu homem”, o de uma mãe incestuosa que o obrigou a instalar-se no seu corpo fortemente masculino e o devorou por inteiro. A questão de K. é com sua mãe, a questão de K. é que sua mãe foi cega diante do bebê menina que tinha nos seios, então K. lhe rejeita o peito e segue na vida buscando aquela que perdeu para atender ao capricho de sua mãe, ou seja, ela mesma, a K. a menina que me apresentou na sua ânsia eterna de ser envolvida em amor, cumplicidade, desejo e…inveja. K. tentou transferir sua inveja visceral das mulheres originais para mim, essa era a condição básica de sua relação comigo, ele faz sempre isso com todas as mulheres e, ao ver que essa é cega a ela, a K. verdadeira, ele/ela parte para a exploração financeira porque, de qualquer modo, as mulheres devem a K. tudo o que possuem, se possuem beleza, é a beleza que lhe devem, se é adoração de homens, estão em dívida com K. e devem abdicar e lhe fornecer esses homens, se são ricas de dinheiro então sua fortuna pertence a K. As mulheres lhe serão devedoras eternamente porque sua mãe lhe é devedora, K. é A Mulher e só esquecerá das outras mulheres quando, admiradoras e aprendizes suas, viverem para imitar K. para ser K. e iara morrer da impossibilidade de ser K. A Deusa agora reinante sobre o desejo enlouquecido e escravo dos homens.
Eis o mistério de K. Eis o segredo da trans que têm na carne a impossibilidade de se transfigurar em mulher porque afinal não teve a permissão, e muito menos a permissão festival e a adoração de sua aberração sexual de sua mãe.
Ele tentou fazer de H. essa figura, e iludiu-se inicialmente com E. Mas ele está sempre só. Ele e a figura morta de F. seu “amado imaginário” seu espelho profundo, aquele espelho que teria sido capaz de fechar para o mundo o labirinto da paixão pedófila de K. por si mesmo.
Mas somos todos figuras internas incapazes de desenhar K. Somos inúteis.
K. mergulhou na loucura.
O arrastão que promove nas redes sociais é o tsunami interno que o avassala, K. é um assassino em massa de almas, e por alguns minutos assistir à morte de uma alma feminina o diverte.
E ele recomeça.