abuso de mulheres, Eu DOM K

O engano do fetiche é a razão de nosso kafkiano processo/EU,K.

Sobre.depoimentosobre namorado Cross Dresser:

https://revistamarieclaire.globo.com/EuLeitora/noticia/2020/09/descobri-que-meu-crush-e-crossdresser-e-tem-mais-maquiagem-que-eu.html

Então uma pessoa admite como verdade que a outra, autora de um livro sobre um fetiche, no caso o BDSM, seria também uma fetichista? Um homem querendo viver seu fetiche com uma mulher que escreve um livro sobre um fetiche. Mas faltou é obvio, o dito DIÁLOGO! No silêncio e que nada se pode entender, não é? Como civilização humana, nossa principal característica é a PALAVRA, é através de palavra que se promove a cura, a psicanálise se dá justamente pela palavra. Foi essa a grande descoberta de Freud. Podemos entender, viver e curar um trauma de um passado remoto trazendo-o à luz da palavra. Do contrário, não é silencio que se tem, é silenciamento.

Agradeço, K. por me escolher como a mulher que inspiraria a sua mulher. Mas vc precisava entender um pouco do que é a palavra escrita, ou seja, literatura, poesia, e também Arte.

Não eu não sou fetichista. Eu sou avessa ao fetiche, eu o detesto, eu busco a expressão sexual atraves do amor de um homem, Homem, Eu vejo os fetiches masculinos como expressão máxima da misoginia, pois são sempre eles que traduzem o sexo através de fetiches. Ou seja, desejar alguém como objeto, objeto sendo coisa, coisa sendo descartável e substituível. O amor que busco e busquei sempre é aquele expresso em O Morro dos Ventos Uivantes.

Na minha vida, sim, porque sou uma mulher feminina, sim, porque amo os homens, sim, fui esse objeto fetichizado idealizado deles, tudo que me causou torpor e sofrimento. Não sou BDSM, não sou sadomasoquista, não sou masoquista, não tenho fetiches por nada que homens usem como indumentária, vejo estes lances como rotas de afastamento das almas das pessoas.

Vê então como somos opostos. Eu não ia poder te amar sendo vc uma mulher nas horas vagas, eu só amo um homem 100% homem, minha sexualidade é talvez antiga, mas não tenho o menor desejo de ser quem não sou para parecer moderna. A minha questão psíquica é outra, K. Fui criada com pavor de um pai violento, cresci numa família autoritária de caráter nazifascista e eu sou uma mente democrática, libertária, generosa, amigável. A minha questão é a dificuldade de dizer NÃO a um homem quando estou verdadeiramente interessada nele. Foi só essa miséria minha que me levou a me submeter a B.

Ele era sádico; as mulheres em geral podem ser assim, submissas a um guerreiro, e também a um sádico. Nossa sexualidade pode ser pautada pela fantasia de um homem, mas só de UM determinado homem, só enquanto dura aquele amor. As mulheres são simples, sua “fantasia erótica” é ser amada e desejada e adorada pelo homem que ela adora, deseja e ama. Nenhum outro, nenhuma outra “fantasia”.

Por isso te foi (e a mim também) tão decepcionante.

Veja que, passado um ano, vc me levou ao tribunal. Quando era eu quem te devia ter levado. Eu fui jogada no lixo por não pertencer à sua comunidade fetichista. Eu não servi ao teu propósito porque eu estive ali para um propósito bem definido. eu não te levaria ao tribunal apesar de tudo porque eu tentava descobrir a tua alma humana silenciada atrás daquela tragédia toda. Eu ainda te buscava.

E foi essa a razão de tantos e-mails. Sei agora que vc não leu nem um por cento. Leia e decida se realmente quer compartilhá-los com a Justiça.

Não era de Justiça que precisávamos, era da palavra, do diálogo. Vc só tinha que me revelar que era um crossdresser buscando em mim, uma mulher, inspiração para a sua mulher secreta. Eu teria dito NÃO.

E vida que segue.

Na perspectiva lacaniana disposta no Seminário “A Angústia” 2, o fetiche desvela a dimensão do objeto como causa do desejo.  Assim, por um lado, o fetiche se apresenta como um substituto, um significante, por outro, se apresenta como um objeto, o próprio objeto causa de desejo e base da fantasia. Sendo o fetiche o estranho objeto sexual, monumento ao horror da castração, também é o instrumento que permite encenar a fantasia sendo o objeto causa de desejo.

A feminização é trabalhada no contexto da comunidade fetichista, entre outros fetiches, por meio da Crossdresser. Em sua definição, Crossdresser é quem se veste com roupas do sexo oposto e tenta se aproximar o mais perfeitamente possível do modo de ser desse sexo. Por isso uma Crossdresser sempre tem uma mulher ao seu lado que a inspira e com a qual ela busca aprender o que é ser uma mulher. Uma maneira possível para o homem entender uma mulher, por um lado, sentindo como uma mulher, por outro, um meio para tornar suportável o reencontro com o infamiliar do sexo feminino.

Acompanhando melhor esse processo, trago a entrevista de Ana Cross3Crossdresser fetichista, oferecida à Rainha Regis, coordenadora do Grupo “Universo”, na qual explica um pouco sobre o que é ser Crossdresser ou CD e, em um de seus primeiros esclarecimentos, enuncia:

“as pessoas do meu convívio não têm a menor ideia do meu fetiche ou de minhas práticas, já que é uma característica de uma CD viver em dois mundos totalmente divididos. Como eu vivo duas realidades totalmente separadas, quando me apresento como homem sou 100% a figura masculina esperada e não há essa confusão. E, quando estou como Ana, sou a mulher das fotos, e não há dúvidas do que eu seja.’’”

(Mais no link: https://ebp.org.br/slo/a-feminizacao-como-

eu_dalia

Izabella Zanchi, multiartista multimeios brasileira, atualmente cria e publica o zine Eu,Kxorro.com em diversas plataformas e têm o carro chefe do mesmo, o e-book Me Fez De Homem Na Cama & Me Bloqueou No Instagram em pré-venda na Amazon (lá está na série Eu, K.)
Zanchi é curitibana de 1956 e atualmente vive em Pontal do Paraná, litoral do estado, no sul do país.

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